Tem se falado ultimamente com grande intensidade sobre a “cana energia” ou “super cana” sempre do ponto de vista agronômico.
Cana Energia: vem sendo desenvolvida pelo Prof. Matsuoka desde 2008/2009. Com a criação da Empresa Vignis em 2010, as pesquisas foram intensificadas, surgindo variedades diversas para atender o mercado sucroenergético.
Trata-se de novas variedades de cana mais resistente a pragas e doenças, de maior produtividade, mais longevas, menos exigentes em qualidade do solo, e o que é mais importante do ponto de vista industrial: tem altos teores de fibra.
Não existe ainda uma definição e classificação mais completa deste vegetal.
Vem sendo classificada em dois tipos:
• Cana energia 1 – com teor de açúcar ≤ 13% e fibra ≥ 18%.
• Cana energia 2 – com teor de açúcar ≤ 9% e fibra ≥ 25%.
Desenvolvida para atender basicamente a produção de grandes quantidades de biomassa com dois propósitos: produção do etanol 2G e geração de eletricidade. Clientes nos têm consultado solicitando informações sobre a cana energia e sua utilização na área industrial. Os estudos na área agrícola estão mais adiantados, mas na área industrial não há ainda praticamente nenhum artigo técnico publicado. Não pretendemos com este trabalho levantar questões agrícolas como: custo de plantio desta cana, corte, transporte, rendimentos e outras questões agrícolas. Pretendemos iniciar com os nossos leitores, um debate dos pontos básicos da utilização da cana energia na indústria.
Colheita da Cana Energia:
Vem sendo feita pelas colheitadeiras de cana, mas segundo informações que recebemos, testes com máquinas forrageiras na colheita deram bons resultados. Consultamos as Empresas fabricantes de colheitadeiras e não há ainda informações que nos possam fornecer. Segundo nos disseram, a utilização das colheitadeiras na colheita da cana energia está em fase de testes e os resultados, ainda em “fase confidencial”, serão repassados aos clientes quando da conclusão dos estudos.
Na Área industrial:
Para desenvolver qualquer estudo na área industrial temos que conhecer a matéria prima com a qual vamos trabalhar.
Recebemos recentemente uma analise de uma cana energia que apresentou a seguinte constituição:
• Fibra …………………. 25,0%
• Pol% cana …………. 9,0%
• ARC …………………. 1,5%
• ART …………………. 109,7 kg/TC
• ATR …………………. 100,4 kg/TC
Com uma pureza de 78,0 o teor de umidade é de 62%, concluímos que:
• Mesmo que o objetivo seja só a produção de energia elétrica, é necessário seu esmagamento para redução da umidade.
• Esta cana não pode ser processada junto com a cana comum – restringiria muito a performance (capacidade e extração) da moenda existente.
• Num conjunto de 04 ternos de moenda, considerando-se uma embebição% fibra de 250%, os parâmetros obtidos seriam estes:
Extração real ………………………………………….. 86,0%
Extração reduzida a 12,5% fibra ………………… 94,0%
Caldo misto % cana …………………………………. 1,08
Umidade bagaço ……………………………………… 51,0%
Com esta cana pode-se produzir 54,0 a 55,0 litros de etanol hidratado/ton cana.
A redução da capacidade da moenda será de 45 a 50% (comparando com fibra 12,5%).
Considerando-se esmagar esta cana temos as seguintes situações:
a. Unidades novas que vierem a ser implantadas.
Se o objetivo for a cogeração em grandes quantidades, será que tem viabilidade a utilização de somente a cana energia? Não seria mais viável um misto cana energia & cana comum? Se for, em que proporção?
Respostas somente após um minucioso estudo, incluindo a parte agronômica.
Uma situação parece certa: é necessário o processamento do caldo obtido, mesmo que o rendimento seja baixo.
Surge mais uma pergunta: Será que vale a pena a instalação de mais ternos de moenda (05 a 06) prevendo-se altas extrações?
b. Destilarias de Etanol existentes:
• Destilarias que não fazem a Cogeração:
Não há nenhuma vantagem da cana energia. Neste caso pode surgir uma situação interessante: a Usina produzir grandes quantidades de bagaço e atender um mercado cativo próximo com contratos de venda a longo prazo. Por exemplo: uma indústria de celulose que utilize grandes quantidades de bagaço em suas caldeiras. Surge a questão: e na entressafra da cana: a usina teria que armazenar grandes quantidades de bagaço para atender seu cliente neste período? Será viável?
• Destilarias que fazem ou pretendem fazer a cogeração:
Pode vir a ser altamente viável. O caldo produzido pelo esmagamento da cana energia deve ser incorporado ao caldo da cana comum e entrar no processo de produção do etanol.
• Destilarias que pretendem processar o milho para a produção do etanol:
Abre-se uma boa perspectiva. Como o milho não produz biomassa para ser processado, a integração cana comum x cana energia x milho pode vir a ser um excelente negócio.
c. Usinas de Açúcar existentes:
Pode ser viável fazendo-se a cogeração:
• Esmagar a cana energia em outro conjunto de moendas. Pode ser um novo ou utilizar um existente que vem sendo pouco utilizado para a cana comum.
• A potência consumida nos acionamentos do desfibrador e moendas serão grandes exigindo consumos elevados de vapor.
• Utilizar todo o caldo extraído da cana energia para a produção do etanol. Não deve ser direcionado para a produção de açúcar.
• Há Usinas que têm refinarias de açúcar e consomem grandes quantidades de bagaço. Somente o bagaço da cana comum + o palhiço não são suficientes, podendo a cana energia ser uma boa opção.
Conclusões:
Vemos um bom potencial da cana energia para atender as novas unidades e as unidades existentes nas condições de se fazer a cogeração e/ou a integração com outros produtos que as unidades venham a produzir. Para cada caso há necessidade de um estudo abrangente envolvendo a área agrícola também.
Manoel Almeida